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Exercício de Transcriação
CD1 / 01 : 10' 12'' a 11'22''
Essa transcrição foi feita por Fabiana Jardim
Depois de muitas risadas,
silêncio.
Quem sofre sô eu
Quem passa mal sô eu.
Cê passa muito mal?
Passo mal
Mas você acabou
porque eu tomo constantemente injeções aqui nos frontais
Injeções para homem e o
e o líquido desce
Quem é que te dá essas injeções?
O invisível polícia secreta, o sem cor
E se ucê não quiser tomar essas injeções?
Pois se eu não tô enxergando o invisível polícia secreta o
sem cor
Aaaah, você não sente né, quando ele te dá a injeção.
Não.
Eles vêm todos os dias?
Todo dia todo instante todo minuto toda hora
E pra que qui serve essas injeções?
Pra forçar a ser doente mental
Qué dizê que são essas injeções que fazem com que você fique doente mental?
É
No dia que cê parar de tomar essas injeções cê fica
curada?
Fico.
Completamente curada. Se eu não tomar remédio, não tomar injeção, não tomar eletrochoque, eu não fico carregada de veneno, envene-nada...

Página de "dibujos invisibles" do Cartunista Gervasio Troche.
Apesar de ter feito aquela observação sobre usarmos marcações visuais para traduzir a
escuta, fiquei pensando em como trazer para o texto tanto o enquadramento institucional
no interior do qual o encontro se deu quanto a iluminação/ sobrevivência que ele tornou
possível. O texto do Diego Gondim me lembrou do lugar do espaço branco na trilogia da
Grada Kilomba – aqui não se trata exatamente de um cubo branco, como no espaço das
instituições de arte, mas de um enquadramento – também branco, em muitos sentidos.
Pensando a fala da Stella como iluminações nesse espaço, queria também jogar com os
sentidos do que a fala dela escurece, deslocando a conversa do centro do enquadramento
da loucura e do manicômio (na qual ela vinha mais ou menos se dando segundos antes)
para fora desse espaço. Me inspirei também nessa imagem do Troche e na reflexão de
que deslocar-se do enquadramento institucional é também contrapor-se a seu desejo de
tudo ver, de sobre tudo jogar luz.